Segundo o médico e professor da Universidade Duke (EUA), Miguel Nicolelis, a seguir no ritmo atual da pandemia, o Brasil chegará a 500 mil mortes por coronavírus em julho, e a média móvel de óbitos, que passou de 3,9 mil no dia 31 de março de 2021 – o mês mais letal da pandemia até aqui – deve bater a casa dos 5 mil em algumas semanas.
Para ele, a pandemia no Brasil chegou numa “bifurcação”: ou o País adota um “lockdown rídigo”, de pelo menos 30 dias, para aliviar o sistema de saúde que já colapsou, e aumenta a vacinação para a média de 2 a 3 milhões de inoculações por dia, para começar a sair da crise, ou segue fazendo o pouco que fez até agora, e assim chegará ao colapso do sistema funerário, que “se aproxima a passos largos”. Só assim o médico acredita que será possível evitar o avanço do que chama de Hecatombe, que significa “destruição em grande escala”.
Em podcast para o El País, Nicolelis afirmou que os dados do sistema funerário são especialmente preocupantes. Hoje há um estoque de 100 mil urnas no País, sendo que para dar conta da atual média de mortes diárias por Covid-19, mais os óbitos de outra natureza, seria necessário o estoque de 400 mil urnas.
“Quando as urnas acabarem porque não há matéria prima disponível para sua produção, o Brasil assistirá ao abandono de corpos nas ruas. Terá de enterrar centenas de vítimas, de uma só vez, em valas comuns, em sacos, não em urnas, o que acelerará a contaminação do solo, dos lençóis freáticos, dos alimentos. O campo ideal para o surgimento de novas pandemias que “ameaçam o País a entrar em um caos sanitário, social, econômico e eventualmente político jamais visto.”
“Esse é o cenário caso nós não iniciemos imediatamente um protesto de resistência”, disse. “Nós cruzamos todo o limite aceitável da decência, da desumanidade, da falta de empatia e ação. É hora da sociedade civil se organizar com a comunidade científica, com todos os órgãos que estão dispostos a se unir, em um movimento de salvação nacional.”
Para efetuar o lockdown rídigo, Nicolelis apontou que as autoridades precisam criar barreiras sanitárias para impedir o fluxo não essencial de pessoas nas malhas rodoviárias e ferroviárias. Fechar espaço aéreo e também bloquear a circulação não essencial em vias intermunicipais.
“Tem que vacinar de 2 a 3 milhões de pessoas por dia. A meta do novo ministro de vacinar 1 milhão por dia é insuficiente, é medíocre”, comentou.