Prefeito, não é hora de fazer média

O momento exige que todos, a começar dos políticos, tenham consciência de que os deveres coletivos devem prevalecer sobre os direitos individuais.

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Por Marcos Abreu

Com atraso e sob pressão da comunidade médica, o prefeito Gustavo Perissinotto anunciou a adoção de medidas mais restritivas na tentativa de conter o avanço da covid. O anúncio veio na esteira do crescimento acelerado do número de casos e mortes, num cenário que aponta para um colapso geral nas redes pública e privada do município.

Acuado entre os segmentos que defendem e os que rejeitam a decretação de um lockdown, o prefeito buscou agradar a gregos e troianos, mas acabou metendo os pés pelas mãos ao determinar o fechamento de supermercados, mercados, varejões, padarias e açougues que, por cinco dias (27 e 28 de março; 2, 3 e 4 de abril), só poderão atender por meio de delivery.

Estamos em guerra contra um inimigo invisível e terrivelmente mortífero! E, já que o lockdown foi descartado pelo governo municipal, não se pode misturar alhos com bugalhos. Supermercados e demais pontos básicos de abastecimento para a população são essenciais e não devem, a esta altura, serem tratados da mesma forma em relação a estabelecimentos não essenciais.

O fechamento de supermercados contraria uma recomendação expressa do Governo do Estado de São Paulo, através do Plano São Paulo de combate ao coronavírus, que já atualizou os protocolos de segurança para esse setor. O que é preciso é fiscalização para colocá-los em prática. Também é preciso consciência por parte de muitas pessoas, que continuam a ir aos supermercados como se estivessem em um programa de lazer.

Compreende-se a aflição de alguns dos setores mais impactados pela pandemia, mas que pela própria essência dos serviços e produtos oferecidos não podem ser considerados essenciais na atual conjuntura. Mesmo assim, senhor prefeito, não há espaço para se fazer média com ninguém.

O atual momento exige equilíbrio e sensatez. Mas também exige absoluta transparência, firmeza e coragem para dar a cara à tapa. Estamos em guerra pela sobrevivência. O momento exige que todos, a começar dos políticos, tenham consciência de que os deveres coletivos devem prevalecer sobre os direitos individuais.

Infelizmente, contar com o bom senso por parte dos políticos locais parece que é pedir demais. Temos um Executivo caracterizado pela tibieza e um Legislativo de baixíssimo nível que, em boa parte e de maneira oportunista e irresponsável, se alimenta de fake news e propaga desinformação.

Era dever do governo municipal alertar – e direito de todo rio-clarense ter sido alertado – sobre a circulação da variante de Manaus na cidade, o que ficou evidenciado com a notificação de um caso suspeito e pela abertura de investigação da Vigilância Epidemiológica em 20 de fevereiro.

Contudo, quase um mês depois nada havia sido confirmado e nenhuma nova medida para conter o avanço do vírus havia sido proposta por iniciativa própria do prefeito. Afinal, sempre foi mais conveniente deixar a cargo do governador João Doria o papel de algoz da economia e violador das liberdades individuais.

Agora, depois da casa arrombada, ironicamente se invertem os papéis: o governador recomenda que se mantenha o atendimento presencial em supermercados, mercadões e demais postos de abastecimento e o prefeito através de decreto determina o fechamento.

Alheio a inércia, ao populismo, aos desencontros e desatinos, o coronavírus avança de forma veloz e letal. Nesta quinta-feira (25), foi batido um novo recorde de internações em Rio Claro e o total de mortes pela covid chegou a 280 – só neste ano foram 116 vidas perdidas.

2 COMENTÁRIOS

  1. Bom dia, como já viram sou leitor deste veículo kkk. Acho importante as colocações, porém em minha opinião é uma questão de narrativa! Primeiro porque os índices alarmantes em que chegamos começam com a postura adotada em Brasília. O Negacionismo nós trouxe ao colapso e pode nos levar ao caus. Daí podemos dizer que todos tentam fazer o que podem uns acertam mais outros menos, sejam os governadores ou prefeitos. Legislador oportunista aqui? Conta outra! Onde não?
    Na Constituição Federal de 1988, a garantia dos direitos individuais se sobrepõe aos coletivos, e nesse momento e caso dificultam ação mais firme e objetiva de prefeitos e até de governadores. Ações que podem ser e estão sendo revertidas na justiça em muitas localidades.
    Abraço.

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