Spike Lee chama Bolsonaro de gângster no Festival de Cannes

“O mundo está sendo comandado por gângsteres", disse Spike Lee, o primeiro artista preto a ocupar a presidência do festival francês.

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O cineasta americano Spike Lee chama Bolsonaro de gângster no Festival de Cannes. O artista, que preside o júri da 74ª edição do Festival de Cannes, chamou Jair Bolsonaro de “gângster” durante a primeira entrevista coletiva do evento, nesta terça-feira (6).

“O mundo está sendo comandado por gângsteres. Há o Agente Laranja [o ex-presidente americano, Donald Trump], o cara do Brasil [Jair Bolsonaro] e [o presidente russo Vladimir] Putin. São bandidos e vão fazer o que desejarem. Não têm moral ou escrúpulos e precisamos falar alto sobre gente assim.”

A declaração foi só uma mostra do que vem por aí, já que o evento também conta com Kleber Mendonça Filho (“Bacurau”) em seu júri, responsável por um famoso protesto no tapete vermelho do festival francês contra o Impeachment de Dilma Rousseff. Na entrevista coletiva, ele defendeu que uma das formas de “resistir” é divulgar a informação e denunciar, por exemplo, “o fechamento da Cinemateca Brasileira há mais de um ano”, uma “forma muito clara de reprimir a cultura e o cinema”.

Spike Lee chama Bolsonaro de gângster no Festival de Cannes
Spike Lee chama Bolsonaro de gângster no Festival de Cannes. (Foto: Reprodução/Internet)

Spike Lee é o primeiro artista preto a ocupar a presidência do festival francês, mas já participou três vezes da disputa pela Palma de Ouro. Ele venceu o grande prêmio do júri em 2018, por “Infiltrado na Klan”, mas é considerado injustiçado por ter sido preterido pelo júri presido por Wim Wenders em 1989, quando exibiu seu filme mais importante, “Faça a Coisa Certa”.

“Muita gente disse que o filme daria início a uma série de motins raciais pelos EUA”, lembrou Lee, em referência ao conteúdo do filme, que termina com uma rebelião racial em um bairro negro em Nova York. “Escrevi o filme em 1988. Mas quando vejo o irmão Eric Garner e o rei George Floyd mortos [homens negros assassinados por policiais brancos, em 2014 e 2020], lembro do [personagem de ‘Faça a Coisa Certa’ também assassinado] Radio Raheem. Você imaginaria que 30 malditos anos depois a população negra não fosse mais caçada como animais.”

O cineasta, que lançou seu filme mais recente (“Destacamento Blood”) pela Netflix, também comentou a resistência do Festival de Cannes ao streaming, proibindo a inclusão de filmes não feitos para o cinema na competição.

Para Lee, o streaming não ameaça o cinema. “Não é uma novidade, porque é sempre um ciclo”, afirmou, lembrando que a TV e os vídeos também sofreram a acusação de causarem o fim da experiência cinematográfica. “O cinema e o streaming podem, sim, coexistir.”

O Festival de Cannes começou oficialmente na terça na França, com a exibição da estreia mundial de “Annette”, aguardado longa do francês Leos Carax, estrelado por Marion Cotillard e Adam Driver.

Kleber Mendonça Filho, diretor de “Bacurau”, também faz parte do júri do Festival de Cannes. (Foto: Reprodução/Internet)

Além de Spike Lee e Kleber Mendonça Filho, o júri do festival também inclui duas diretoras de cinema: a francesa Mati Diop (“Atlantique”) e a austríaca Jessica Hausner (“Little Joe”). O corpo de jurados se completa com cinco atores: o sul-coreano Song Kang-ho (“Parasita”), o francês Tahar Rahim (“O Mauritano”), a americana Maggie Gyllenhaal (“Secretária”), a francesa Mélanie Laurent (“Oxigênio”) e a canadense Mylène Farme (“A Casa do Medo – Incidente em Ghostland”), que também é cantora e compositora.

Com cinco mulheres e quatro homens, trata-se de um dos grupos mais diversos da história de Cannes, que terão a difícil tarefa de suceder o júri comandado pelo diretor mexicano Alejandro González Iñárritu (“O Regresso”), responsável por apresentar ao mundo “Parasita”, do sul-coreano Bong Joon Ho, vencedor da Palma de Ouro em 2019 e, posteriormente, do Oscar em 2020.

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