Não dá para negar. A sensação de ter sido feito de idiota começa a ganhar corpo e ser compartilhada pelos rio-clarenses atingidos pelo rigoroso racionamento de água. Afinal, o prefeito Gustavo (PSD) adiou medidas urgentes e necessárias para facilitar sua reeleição?
Três dias após ter sido reeleito com 56 mil votos, o prefeito Gustavo Perissinotto assinou dois decretos publicados no Diário Oficial do Município, edição de 9 de outubro.
No primeiro, declarou situação de escassez hídrica no município, determinando que o DAAE poderia realizar rodízios no abastecimento – o que passou a acontecer a partir do dia 12. O segundo, estabeleceu multa para quem for flagrado desperdiçando água, em ações como lavar calçadas, quintais, veículos, irrigar jardins e encher piscinas.
Com o agravamento da crise hídrica, a partir desta sexta-feira (18), 40% da população rio-clarense que é abastecida pela ETA 1 ficará sem água nas torneiras das 6 horas da manhã até às 18 horas.
Gustavo é culpado pelas mudanças climáticas? Não! Tem culpa pela estiagem histórica que assola Rio Claro e outras tantas cidades pelo país? Não!
O prefeito reeleito é responsável pelo agravamento da crise que agora penaliza milhares de rio-clarenses, afeta a rotina e impõe perdas significativas ao comércio, indústrias e prestadores de serviços? Neste aspecto há controvérsias e novas indagações surgem.
O nível de água no Ribeirão Claro não despencou de uma hora para outra. Com a estiagem prolongada e as altas temperaturas, o monitoramento no ponto de captação de água bruta deve ter detectado há tempos uma queda gradativa e contínua.
E, a partir daí, surgem novas questões. Por que a aplicação de multa para combater o desperdício de água não foi adotada antes? Por que se esperou tanto para dar início aos rodízios no abastecimento?
Tais medidas, que se mostravam necessárias, urgentes e inevitáveis foram postergadas em razão da disputa eleitoral? Houve irresponsabilidade? Prevaricação? Negligência? Tratou-se de omissão estratégica e deliberadamente assumida por se tratar de medidas impopulares com impacto negativo em uma campanha para reeleição?
É certo que para se reeleger Gustavo soube se impor pelo poder econômico, pelo uso da máquina administrativa e pelo timing correto das ações eleitorais estratégicas. O adiamento deliberado e irresponsável de medidas restritivas em relação ao consumo de água fez parte deste pacote?
Depois da casa arrombada, cadeado na porta! Nesta quarta-feira (16), a Prefeitura e o DAAE anunciaram tardiamente e sem que a presença do prefeito fosse registrada no ato a criação de um gabinete de gestão de crise.
Para além das questões estritamente climáticas, a crise que agora coloca em xeque a segurança hídrica de Rio Claro merece ser investigada a fundo pela Câmara Municipal e pelo Ministério Público. Afinal, sem água nas torneiras não dá para lavar as mãos!