A fogueira das vaidades arde em alta temperatura na Câmara Municipal e a batata do prefeito Gustavo já está assando. Vereadores que até então seguiam mansamente o pastoreio do Executivo, começam a mostrar as garras e os dentes do lobo que se esconde debaixo da pele de cordeiro.
Compelidos pelo cenário que se projeta para 2024 no pós-eleição que acirrou ainda mais a polarização política e premidos pelo instinto de sobrevivência, os vereadores tendem – apesar das bene$$e$ recebidas através do toma lá dá cá desavergonhado – a transformar o Legislativo em um terreno inóspito e mais hostil ao prefeito.
As últimas sessões ordinárias deram sinais claros da mutação comportamental em curso. Contribui para isto também, o fato de o governo Gustavo Perissinotto se assemelhar a um balaio de gato, ao usar as centenas de cargos criados para abrigar desde bolsonaristas defensores de intervenção militar até lulistas juramentados, como o caso do secretário de Habitação Agnelo Matos.
É em meio a essa muvuca, que deve crescer a pressão sobre vários secretários municipais. Além de Agnelo, estarão com a cabeça à prêmio Valéria Velis (Educação), Vilma Spricigo (Ação Social), Dalberto Christofoletti (Cultura) – tidos como esquerdistas no Legislativo, que quase em sua totalidade se diz de centro-direita. A artilharia também deverá aumentar sobre Giulia Puttomatti (Saúde), Valdir Oliveira Jr (Obras), Carlos Dias Fernandes (Finanças) e Leandro Geniselli (Meio Ambiente).
Ao contrário do que parte da imprensa engajada tenta fazer crer, a chegada da ex-vereadora Maria do Carmo Guilherme ao governo municipal – como antecipou o RC 8:32 -, ao invés de apaziguar os ânimos deve acirrar a disputa por mais espaço na máquina administrativa a partir do ano que vem. O PP de Ronald Penteado (secretário de Serviços Públicos), por exemplo, costuma apresentar um apetite voraz por cargos e se colocar como fiel da balança à medida que o período pré-eleitoral se aproxima.
Tudo isso, levará Gustavo a continuar gastando milhões com publicidade e propaganda e, mesmo assim, vendo a comunicação de seu governo se tornar alvo de críticas de vereadores que farão de tudo para submeter o prefeito às suas próprias agendas, tornando-o refém de seus interesses específicos. A imagem atrelada a alguns vereadores tóxicos será o começo do fim de Gustavo.
Eleito com pouco mais de 30% dos votos válidos e ainda um ilustre desconhecido para boa parte da população rio-clarense, Gustavo depende de uma ampla estrutura de poder político para sonhar com a reeleição e, desta forma, se torna uma presa fácil de vereadores e caciques partidários prontos a vampirizá-lo.
Não é preciso ser vidente para prever que no biênio 2023/2024 o prefeito não terá vida fácil. O achaque do Legislativo sobre o Executivo vai se intensificar. Os mesmos vereadores que tramaram contra o ex-prefeito Juninho em 2016 para favorecer Gustavo, estarão doravante prontos para, sem o menor pudor, cravar mais uma vez o punhal da traição em nome da própria sobrevivência. É da natureza deles!
À Gustavo sobra astúcia, falta carisma. Sobra soberba e arrogância, falta humildade e simpatia. Sobra inteligência, falta empatia. Sobra articulação e poder de oratória, falta capacidade de realização e eficiência.
Enfim, a batata do prefeito Gustavo só começou a assar na Câmara porque os vereadores perceberam que com a população ela já está assada.
