Rio Claro: A política de inação e a morte digna como consolo

Em troca da vida pública que lhes foi concedida pelo voto dos rio-clarenses, a política de inação do prefeito e dos vereadores oferece em retribuição apenas a perspectiva de uma morte digna.

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Por Marcos Abreu

Uma morte digna como consolo. É o que nos oferece a política de inação implementada pelo prefeito Gustavo Perissinotto e pelos vereadores da Câmara Municipal que de forma mais sutil, porém não menos nociva, replica em Rio Claro a nefasta e perversa postura do governo Bolsonaro frente à pandemia do novo coronavírus, que levou o Brasil a superar a horrorosa marca dos 500 mil mortos.

Mesmo com UTI’s lotadas e o crescente número de novos casos, internações e óbitos, prefeito e vereadores insistem em ignorar a dramaticidade da situação. Negam-se, conscientemente, a adotar medidas restritivas necessárias para aumentar a taxa de isolamento, controlar a velocidade de contágio, evitar novas infecções e mortes.

A piora do quadro epidemiológico no município já havia sido constatada pelo governo municipal desde o mês passado. Tanto é que no dia 28 maio a Fundação Municipal de Saúde (FMS) suspendeu por 30 dias a realização de cirurgias eletivas nas redes pública e privada. Motivo: o surto expressivo de casos que desde então colocava em risco as vagas para leitos de UTI e enfermaria.

Apesar disso e diante do agravamento da situação, no dia 8 de junho, em entrevista a EPTV/São Carlos, a infectologista e diretora de Vigilância em Saúde da FMS, Suzy Berbert, advertiu que “o leito em si não garante que a pessoa vá se recuperar da covid” e fez um apelo veemente : “é o momento da gente voltar a ser mais rígido com relação as medidas de isolamento e as medidas de prevenção”.

A política de inação e a morte digna como consolo
Vereadores e prefeito municipal no Plenário da Câmara de Rio Claro. (Foto: PMRC)

No dia 9 de junho foi a vez do governo estadual, através do Centro de Contingência, recomendar aos municípios com mais de 90% de ocupação dos leitos de UTI Covid que adotassem medidas mais rígidas. Na mesma data, Rio Claro chegava a 460 mortes e apresentava índice de 92% de ocupação de leitos.

Alheia ao avanço da covid, no dia 14 de junho a Câmara Municipal aprovou em segunda e definitiva discussão o projeto de lei 074/2021 que, independente do nível de emergência sanitária, torna essenciais praticamente todas as atividades comerciais. O projeto aprovado para fazer demagogia com comerciantes, donos de bares e igrejas, passa uma mensagem clara: libera geral… não estamos nem aí para a pandemia.

Por sua vez, em 15 de junho, o Conselho Municipal de Saúde deliberou por recomendar que novas medidas restritivas fossem adotadas de imediato pelo prefeito. O CMS observa que o aumento no número de casos reflete com o aumento proporcional no número de internações em prazo de 7 a 14 dias e de óbitos, entre 14 e 28 dias.

Na manhã do dia 16 de junho, em entrevista à rádio Jovem Pan News, ao ser questionado sobre o aumento de casos e lotação nos hospitais, Perissinotto externou, mais uma vez, sua tibieza e subserviência a interesses inconfessáveis. Mesmo sabendo tratar-se de uma iniciativa inconstitucional e imprestável, disse que sancionaria a lei aprovada pela Câmara e que não pretendia decretar medidas mais restritivas no município.

Os eventos aqui elencados em ordem cronológica evidenciam a política de inação adotada em relação às recomendações dos especialistas para mitigar os efeitos da pandemia. Resta saber o quanto essa política contribuiu para o número crescente de vidas perdidas, que na semana de aniversário de Rio Claro totalizará mais do que o dobro do número de mortes registradas em todo ano de 2020.

Neste contexto, ganha ainda mais relevância a afirmação do CMS de que “nada justifica a perda de mais vidas, quando sabemos como evitar”.

Mas infelizmente, em troca da vida pública que lhes foi concedida pelo voto dos rio-clarenses, a política de inação do prefeito e dos vereadores oferece em retribuição apenas a perspectiva de uma morte digna como consolo.

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