Híbrido, volátil e amorfo sob o aspecto partidário e ideológico, o governo Gustavo Perissinotto (PSD) oferece um prato cheio para a oposição que, para a sorte do prefeito que almeja a reeleição, ainda está às voltas com uma série de indefinições para as eleições que se aproximam.
Independente das incertezas que inibem o apetite da oposição, o prefeito Gustavo parece estar disposto a seguir à risca a cartilha da política tradicional que já provocou a derrocada de antecessores, conduzindo-os ao que ele mesmo chama de máquina de moer novas lideranças.
A partir de uma reforma administrativa – agora questionada na justiça – criou cargos, cooptou adversários, atraiu novos aliados e construiu uma ampla base de apoio na Câmara Municipal. Com isso concentrou poder político em suas mãos pressupondo que, por consequência e extensão, ganhará força eleitoral nas urnas. Há controvérsias.
De fato, Gustavo conta com o apoio da maioria expressiva dos vereadores, que sempre saem em sua defesa, vendem o peixe do governo e se prestam a manobras diversionistas criando cortinas de fumaças. Seria perfeito se esses mesmos vereadores não estivessem fortemente empenhados em enterrar para além do fundo do poço a ínfima parcela de credibilidade que ainda resta ao Legislativo Municipal.
Ensimesmado e envolto com estratégias mirabolantes, Gustavo apostou suas fichas no poderio da máquina administrativa e manteve-se convicto de que conseguiria manipular as peças do tabuleiro político e partidário a seu bel-prazer. Subestimou a força da polarização política e, agora, corre o risco de ser atropelado por transitar numa faixa de isenção, hoje restrita a apenas 11% da população – clique AQUI.
Neste contexto de embate entre direita e esquerda, que faz das eleições municipais deste ano uma prévia para 2026, um ingrediente adicionado recentemente entornou o caldo de vez: o ex-presidente Jair Bolsonaro declarou guerra ao PSD e ao seu presidente nacional Gilberto Kassab, o que torna impossível a permanência do PL no governo municipal – clique AQUI.
Com o caldeirão político quase atingindo o ponto de fervura, aumentam os ruídos sobre pesquisas que apontariam rejeição em alta motivando uma frenética corrida contra o tempo para sua reversão. E a preocupação se justifica. Afinal, apenas 4.729 votos separam o candidato que obteve 28.266 (29,97%) votos e foi derrotado por Juninho da Padaria em 2016, do prefeito eleito com 33.015 (36,53%) votos na revanche de 2020.
E aqui entra em ação outro capítulo clássico da velha cartilha política, que aponta que a culpa por uma eventual má avaliação é da comunicação. Sem um pingo de autocrítica, prefeito, vereadores da base e secretários concluem que o trabalho de cada um e do governo em geral é excelente. Portanto, o problema está na incapacidade de fazer com que os munícipes enxerguem isso.
Pela lógica simplista e rasa, basta injetar mais dinheiro para a publicidade oficial. Desta forma, acreditam que a comunicação deixará de ser um problema e passará a ser solução, uma panaceia para todos os males do governo. Não levam sequer em conta que o que difere o remédio do veneno é a dosagem e a forma de aplicar.
De modo geral, o governante de plantão – e Gustavo não é exceção -, seja pelo deslumbramento ou pela solidão do poder, atribui a si próprio expertises, habilidades e virtudes que na realidade não tem. Por isso é sempre bom ter em mente a célebre frase do sábio Alvo Dumbledore, da saga de Harry Potter: “São as nossas escolhas, mais do que as nossas capacidades, que mostram quem realmente somos”.
Isto posto, depreende-se que são as escolhas que Gustavo fez e ainda fará que determinarão o prato que seu governo levará à mesa da sucessão municipal. Em outubro saberemos se atenderá ao paladar da maioria da população ou satisfará o apetite da oposição.