Sem saber ao certo a sua vocação e o que quer para o futuro, Rio Claro se transforma num “buraco negro” que atrai, engole e tritura novas lideranças políticas. O ex-prefeito Juninho da Padaria é o exemplo mais recente e o prefeito Gustavo Perissinotto – senão abrir o olho e ainda há tempo para isso – sabe que pode ser a próxima vítima.
De forma simplificada, buraco negro é descrito como uma região do espaço que possui uma quantidade tão grande de massa concentrada que nada consegue escapar da atração de sua força de gravidade, nem mesmo a luz.
Algo similar acontece com as novas lideranças que surgem com algum brilho e passam a gravitar na órbita do poder político de Rio Claro. No começo reluzem com propostas de mudança e disposição para quebrar paradigmas. Mas aos poucos são atraídos para o limbo de uma mesmice que perpassa décadas até apagarem-se na obscuridade.
Há vários fatores que contribuem para a existência desse buraco negro. Entre eles, sucessivas legislaturas que no geral se nivelam por baixo e são formadas por vereadores movidos por interesses pessoais ou de pequenos grupos. Também contribui uma imprensa refém de um jornalismo com viés de colunismo social, especializada em massagear egos, diminuir o debate político e vender falso prestígio enquanto sem querer (querendo) destrói a imagem.
Pretensos novos líderes são também co-responsáveis pelo próprio declínio e ocaso, ao rifar a própria autoridade na busca de uma unanimidade burra e ao abandonarem a coragem e a ousadia demonstrada em campanha, para se entregarem a uma zona de conforto delimitada pela manutenção de um discurso surrado pelo qual se espera gratidão e recompensa pela realização de obras e serviços, tidos apenas como uma obrigação pelo eleitor pagador de impostos. Como resultado, perdem o brilho e são tragados pelo “buraco negro”.
A esta altura vale a pena resgatar um episódio perdido na memória de muitos e talvez do próprio protagonista. No final de 2014, após ter sido reeleito para o seu sexto mandato, o então deputado Aldo Demarchi flertou com uma mudança de postura, sempre comedida. Ao analisar a reeleição da então presidente Dilma Rousseff, atribuiu a vitória da petista em grande parte a influência do Bolsa Família e chegou a defender a tese de que os seus beneficiários não deveriam votar, enquanto dependessem exclusivamente do benefício. Quase que de imediato, a fala de Demarchi repercutiu em grandes veículos de comunicação, provocou a ira de petistas e se tornou alvo de uma saraivada de críticas de colunistas assumidamente esquerdistas, como Leonardo Sakamoto.
Passados oito anos e após todo o desenrolar do contexto político desde então, é legítimo supor que, se mantida a incursão em temas mais polêmicos e a adoção de posicionamentos mais contundentes, talvez – é apenas uma hipótese – tivesse tido melhor sorte na eleição de 2018, quando não conseguiu se reeleger e assistiu a então candidata a deputada estadual Janaína Paschoal arrebanhar mais de 12 mil votos em Rio Claro, onde nunca havia colocado os pés antes e sequer sabia a localização.
Retomando. É certo que com o avanço da era digital as fronteiras deixaram de existir. E, em tempos de redes sociais viciantes, aspirações comuns nas três esferas de poder (federal, estadual e municipal) polarizam debates, ganham relevância, atuam como fator identitário e, por vezes, se sobrepõem aos anseios meramente paroquiais.
Além de fazer a leitura correta do contexto político e projetar sua evolução, cabe às lideranças adaptarem-se às novas formas de comunicação e interação, assumir posicionamentos claros e ter coragem de empunhar bandeiras capazes de mobilizar a população.
Afinal, se você não lutar por alguma coisa, será vencido por qualquer coisa.
Por fim, vale como lembrete citar Eliphas Levi: “Para empreender, é preciso saber; para alcançar, é preciso ousar; para realizar, é preciso querer; e para estar em paz, é preciso calar”.
Leia mais sobre a política de Rio Claro e Região no RC 8:32.