Conheça a Ilha dos Frades, paraíso isolado em Salvador

O chamado “território além-mar” é carregado de heranças históricas e natureza exuberante.

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Bem representados nas letras de Dorival Caymmi, os encantos de Salvador descem as ladeiras e ruas multicoloridas do Pelourinho, ultrapassam o corredor da Vitória e se espalham pelas ilhas da Baía de Todos-os-Santos. Além dos monumentos marcados por uma riqueza histórica singular, entre os grandes atrativos da capital baiana, certamente, estão as praias de beleza exuberante do litoral.

Com 8 km de extensão, a Ilha dos Frades é uma das 56 ilhas do arquipélago, onde a combinação de arquitetura histórica, azul do mar e vegetação abundante formam um cenário dos sonhos. A queridinha dos soteropolitanos, ainda menos conhecida pelo fluxo turístico massivo de outros estados, é a pedida ideal para quem busca calmaria e sossego sem sair da capital.

Nesse momento de pandemia, esteja aberto para explorar roteiros fora do itinerário tradicional de viagens e encontrar novos tesouros em território verde e amarelo. Enquanto o turismo de isolamento é a alternativa para reaquecer o mercado tão afetado pela pandemia de Covid-19, expanda seus horizontes e encontre maneiras de fugir da realidade sem abrir mão da segurança.

O pequeno território baiano é um passeio ideal para um dia ou pernoite. O destino possui a forma de uma estrela de quinze pontas, com belas paisagens que incluem praias, lagos, cachoeiras, montanhas, coqueirais e Mata Atlântica bem preservada. Além do momento “pé na areia”, a Ilha dos Frades tem pousadas e restaurantes com direito às delícias típicas da capital do dendê e, como não poderia faltar, arquitetura histórica.

Igreja de Nossa Senhora do Loreto.

Marcas da história

Ainda hoje não se sabe ao certo a origem do nome da ilha, que recebeu diferentes denominações desde a sua descoberta, no início do século XVI. O título de Ilha dos Frades, segundo a memória popular, vem de um grupo de Frades que naufragou na Baía, e nadando, conseguiu alcançar a ilha, mas todos acabaram morrendo por invadir o território dos índios que habitavam na região. Posteriormente, a Ordem dos Jesuítas foi proprietária do lugar, até ser expulsa do Brasil pelo Marquês de Pombal.

Lá estão alguns símbolos das relações sociais e econômicas de um passado histórico. Por exemplo, no século XIX, a ilha servia como local de aguardo dos tumbeiros (navios negreiros usados no tráfico de escravos) e o lazareto, uma espécie de armazém afastado, onde escravos ou “estranhos” – indivíduos sem caderneta sanitária e sob suspeita de portarem doenças contagiosas – eram mantidos em quarentena.

Ali também ficam as igrejas de Nossa Senhora de Loreto (de 1645), completamente restaurada pela Fundação Baía Viva, instituição que cuida do local, e a de Nossa Senhora de Guadalupe, também do século XVII, em processo de recuperação.

Uma das primeiras vistas para quem parte em direção ao destino, saindo de Salvador, é a do Forte São Marcelo, no meio da Baía de Todos-os-Santos. O monumento histórico, de formato quase circular, foi o local da prisão do general Bento Gonçalves durante a Revolução Farroupilha, no século XIX.

Baía de Todos os Santos, Forte de São Marcelo e ao fundo Cidade Baixa. (Foto Manu Dias/SECOM)

Sustentabilidade

Entre os princípios que regem a vida na ilha, a importância da conservação ambiental foi colocada como um dos mais importantes pilares de desenvolvimento da região. No local atua a Fundação Baía Viva, organização social sem fins lucrativos que se dedica há mais de 20 anos a revitalizar, incentivar a conservação do meio ambiente e a promover ações sociais nas 56 ilhas do arquipélago.

De acordo com Isabela Suarez, presidente da fundação, é na Ilha dos Frades que fica a primeira praia do Nordeste a receber a bandeira azul, uma certificação internacional oferecida a destinos que se enquadram em quatro requisitos: segurança pública, qualidade do serviço, balneabilidade da água (nível de limpeza) e educação ambiental.

“Existe um trabalho tanto de conscientização quanto de fiscalização da polícia ambiental. O resultado desse cuidado é uma praia que mais parece um aquário, de tantos peixes e animais marinhos que residem ali”, explica Isabela.

O programa mundialmente conhecido deu mais visibilidade ao destino, que reverte o fluxo turístico em qualidade de vida para seus habitantes.

Baía de Todos os Santos.

Melhor época para visitar

A Bahia é um daqueles destinos de sol praticamente o ano inteiro. Por isso, é possível curtir o litoral em todo o tempo, exceto na estação das chuvas, de abril a julho. A época em que o destino está em melhores condições para receber turistas é na alta temporada, de novembro a fevereiro.

Como chegar?

Existem algumas opções de como chegar à Ilha dos Frades, das mais práticas até as que oferecem maior autonomia. A primeira delas é contratar um passeio ao local e à ilha de Itaparica, saindo de Salvador. O trajeto é feito por grande parte das agências de turismo, passando por mais de uma ilha no mesmo dia, porém com hora para sair e hora para voltar, sem oferecer muito tempo para explorar o lugar.

Para quem não quer fazer grandes planos, há ainda uma versão mais simples, saindo do Terminal Marítimo de Salvador – que fica atrás do Mercado Modelo, na Cidade Baixa. Todas as manhãs, por volta das 9h, o catamarã (uma espécie de embarcação) parte do local e navega pela Baía. O trajeto até a Ilha dos Frades dura cerca de 1h30, e oferece vistas singulares do litoral.

Outra opção para chegar até a Ilha dos Frades é mesclando a via terrestre e a marítima. Para isso, você deve ir até o Terminal Marítimo de Madre de Deus, que fica a quase 70 km da capital baiana – de ônibus ou de carro. De lá, pegue uma embarcação até o local de destino. O percurso de barco é bem rápido: em menos de 15 minutos você estará na Praia de Paramana.

Praia de Paranama.

Passeios imperdíveis

Por de onde chegam e saem as embarcações, a praia de Paramana é uma das mais movimentadas do destino. O grande atrativo do point, entre restaurantes e barracas de praia, é o pequeno vilarejo de pescadores.

Ao sul da Ilha, a praia do Loreto abriga um dos cartões-postais da região, a Capela de Nossa Senhora do Loreto, do século XVII. As águas transparentes também são um convite tentador aos banhistas, com mar calmo e de temperatura agradável.

Na mesma direção – com o aproveitamento e reforma de um velho casarão que no passado servia como sede de fazenda – foi instalado o Centro de Memória da Ilha dos Frades, que hoje é passagem obrigatória para qualquer interessado em conhecer melhor a origem, fauna, flora, formação geográfica, costumes e manifestações populares da ilha.

Para conhecer a praia da Viração, a pé, é necessário consultar as marés. Em tempos de maré alta, só é possível chegar ao local de barco. Por não ter estrutura de barracas, essa é uma praia menos movimentada, portanto leve seus alimentos e bebidas caso deseje ficar por lá.

Também de águas claras e emoldurada pela vegetação densa, o destaque são os recifes de coral e as piscinas naturais na praia do Tobar, de onde partem trilhas em direção à praia de Tobazinho.

Centro de Memória da Ilha dos Frades. (Foto: Reprodução/Fundação Baía Viva)

Já a praia Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe é conhecida pela gastronomia, com foco em frutos do mar. Em sua faixa de areia há várias barracas com mesas e sombreiros, além de uma infraestrutura com restaurantes, banheiros e duchas. O local foi o primeiro do Norte e Nordeste brasileiros a receber o certificado ecológico Bandeira Azul, uma das certificações internacionais mais importantes que cumpre severos requisitos socioambientais.

De lá, aproveite para subir os 136 degraus da Igrejinha de Nossa Senhora de Guadalupe, construída pelos portugueses, e encontre a vista mais bonita da praia.

A região também é bastante procurada pelos praticantes e simpatizantes de esportes náuticos, como mergulho. Eventos como competições de natação, o Campeonato Baiano de Windsurfe e a travessia de mar Grande a Salvador acontecem na baía de Todos-os-Santos.

Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe. (Foto: Reprodução/Fundação Baía Viva)

Opções de hospedagem

Para quem quer esticar a estadia e não quer voltar tão cedo para a capital baiana, o local oferece diferentes tipos de hospedagem.

A Pretoca Pousada fica na Ponta de Nossa Senhora de Guadalupe, praia mais famosa da região. O espaço conta com apenas seis apartamentos, todos decorados com diversos objetos artesanais, garimpados pelo mundo, com muitos detalhes coloridos e com forte DNA baiano.

Há ainda, como alternativa mais rústica, um camping formado por pequenas cabanas, decoradas a partir de um trabalho voluntário feito por arquitetos e decoradores de Salvador. Quem quiser viver a experiência deve procurar pela Ecopousada da Lu. Contato: (71) 98634-4094.

Como terceira opção, o local abriga o albergue pousada da Janaína, tocado por uma antiga dona de barraca de praia, que trabalhava de maneira informal, mas sempre encontrava um cantinho para abrigar os turistas que queriam ficar mais um pouco. Com ajuda da fundação, o espaço ganhou investimento e agora é uma hospedaria que cumpre todas as recomendações. Ela ainda oferece as dicas imperdíveis da anfitriã. Contato: (71) 99235-5387.

Pousada na Ilha dos Frades. (Foto: Reprodução/Fundação Baía Viva)

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