‘Aedes aegypti’ mostra baixa competência para transmitir zika

Um estudo realizado do Instituto Oswaldo Cruz / Fiocruz mostrou que o Aedes aegypti apresenta baixa competência vetorial em relação ao vírus zika.

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Um passo importante para o entendimento da dinâmica de transmissão das arboviroses, como dengue, zika e chikungunya, é conhecer a capacidade que os mosquitos possuem de se infectar e transmitir os vírus causadores das doenças, característica chamada tecnicamente de ‘competência vetorial’. Um estudo realizado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) apontou que o Aedes aegypti apresenta baixa competência vetorial em relação ao vírus zika, quando alimentado diretamente em macacos infectados. O trabalho sugere que a transmissão do vírus seja muito mais impactada pela alta densidade do inseto numa determinada região do que pela capacidade vetorial do mosquito. Os achados reforçam a necessidade de se reduzir a quantidade de vetores como uma importante medida de prevenção. A pesquisa, liderada por especialistas do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e do Laboratório de Desenvolvimento Tecnológico em Virologia do IOC, foi publicada no periódico científico Viruses.

Dengue
‘Aedes aegypti’ apresenta baixa competência vetorial em relação ao zika quando alimentado diretamente em macacos que estão com o vírus na circulação sanguínea (Foto: Josué Damacena, IOC/Fiocruz)

Para chegar ao resultado, os pesquisadores utilizaram duas populações distintas de Aedes aegypti do município do Rio de Janeiro, das localidades de Manguinhos, na Zona Norte, e da Urca, na Zona Sul. Os insetos foram criados sob condições controladas de umidade e temperatura, na sede da Fiocruz, no Rio. Ao atingir a fase adulta, os mosquitos foram alimentados, em diferentes dias, diretamente em seis macacos rhesus (Macaca mulatta) infectados pelo vírus zika. O período de viremia, momento em que há vírus circulando no sangue do animal, se estendeu até oito dias após a inoculação.

A competência vetorial foi analisada após 3, 7 e 14 dias da alimentação dos mosquitos nos macacos com sangue infectado. Apenas em uma pequena parte dos mosquitos alimentados no pico da viremia, registrado no segundo dia após a infecção dos primatas, foi identificada com a presença do vírus. De um total de 366 mosquitos analisados, apenas 15 testaram positivo para o vírus, resultando em uma taxa global de infecção de cerca de 4%, independentemente da população de mosquitos testada. Dentre os positivos, cerca da metade registrou disseminação viral para a cabeça do inseto. No total, apenas dois dos 366 mosquitos apresentaram vírus na saliva – fator decisivo para a transmissão.

O estudo destaca que, considerados somente os mosquitos que conseguiram se infectar (15), tanto a taxa de disseminação quanto a taxa de transmissão (presença do vírus na saliva) variaram de 50 a 100%. Esse dado sugere que, uma vez infectado, o Aedes aegypti apresenta alta probabilidade de que o vírus se espalhe pelo seu corpo e possa ser transmitido.

“É provável que a transmissão do vírus zika seja mais impactada pela alta densidade do vetor do que pela capacidade de infecção do mosquito. Portanto, é fundamental o reforço da estratégia de combate à proliferação do vetor. Com dez minutos por semana é possível eliminar criadouros nas casas e interromper o ciclo de desenvolvimento do mosquito”, enfatiza o pesquisador Ricardo Lourenço, coordenador do estudo.

O pesquisador explica que quase todos os estudos de competência vetorial de mosquitos ao vírus zika são realizados com a utilização de alimentação artificial a partir de preparações de sangue de animais contendo altos níveis de vírus. No entanto, segundo ele, o presente estudo simulou o cenário mais comum da infecção dos humanos na natureza, ao realizar testes com a alimentação direta dos mosquitos em primatas, os macacos rhesus, considerados um modelo experimental mais próximo dos seres humanos para esse vírus.

O estudo também contou com a participação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e do Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz). A pesquisa foi financiada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), National Institute of Health e pelo programa Horizonte 2020 da União Europeia, pelo consórcio ZIKAlliance.

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