Sobre foguetes, falos e garotos propaganda da nova corrida espacial

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Quando os navegantes europeus custearam caravelas em 1400, em cima de milhares de vidas perdidas pela peste negra, será que algm podia dizer “hey amiguinhos, isso não é nada legal, hein?”

Imagina o furor que não foi naquela época, descobrir que o mundo não era só aquilo que eles acreditavam até então. Como assim tem mais mundo dentro do planeta? Deve ter sido um vuco vuco. No mínimo.

Bom, e o que isso tem a ver com a corrida espacial de Bezos, Musk e o sugar daddy da Virgin?

Ora, não é o mesmo cenário social de 600 anos atrás? A classe rica, brincando de aventura e lucrando com seus hobbies, enquanto a maioria mortal, morre sem nem ter onde cair morto – literalmente.

O capitalismo mundial, neste modelo que conhecemos, ele atravessa séculos, e não ao acaso, de tempos em tempos, ele coopta causas e contra-movimentos que se opõe a ele, e os absorve (causas sustentáveis, questões de gênero, etc).

Quando foi útil ao capitalismo a mão de obra feminina, ele nos incorpora. O mesmo se passou com os escravizados (libertados para poder consumir). E está acontecendo de novo, neste momento, com as questões ambientais. Claro que há movimentos de oposição que forçam mudanças, mas o capitalismo coopta estas pautas diariamente e nem percebemos a armadilha. Vide o pink money e a primavera árabe (2011,2012).

E o que tem tudo isso a ver com os foguetes?

Bom, primeiro, como estamos numa das crises mais agudas causadas pelo modo de produção e consumo capitalista, e ao que tudo indica, os empreendedores fofos e não estão interessados em barrar este movimento em suas empresas e investimentos. Portanto, é importante pensar em outros mundos para habitar. Como Marte, por exemplo.

A cara do capitalismo é um, ou três, garotos propagandas de sucesso – levemente travestidos de caras desapegados (Elon Musk agora faz a linha minimalista de viver kkkk ah tá) – que dizem “olha, vamos salvar vocês! Confiem em nós!Somos filhos do Buzz Lightyear”.

A cilada é que, só milionário e rico vai ter casinha de campo em Marte – SE – DER CERTO. Nós, corpos que produzem, permaneceremos aqui, neste planeta todo cagado.

Nada mais patriarcado que estes homens, o supra sumo dos capitalistas, empreendedores ousados, apostadores do dinheiro de terceiros que sobem em seus falos tecnológicos que custam milhares e milhares de dinheiros, rumo ao espaço, como grandes salvadores da humanidade – mesmo que seja meia bomba e dure só 4 minutos a gozada (aliás, isso é bem do patriarcado, a ode ao seu falo meia bomba).

A não ao acaso, são 3 competidores. A questão competitiva faz parte da narrativa de sucesso…e reforça a tal meritocracia do capital.

Mas Clarinha, você é contra as tecnologias?

Meu caro, obviamente que não. Eu amo a internet, meu edredon, os pratos, carros, a eletricidade, eu acho que vivemos no momento mais confortável e favorável do mundo até agora. Desenvolvemos vacinas em tempo recorde…nos conectamos pelo invisível sinal da internet. Temos antibiótico! Porran! Pensa viver na antiga Roma? Na era medieval? Eu hein, adoro meu banheiro e tomar banho todo dia quente.

Mas veja, essas propagandas bélicas e espaciais do capitalismo jogam nuvens densas na ignorância do senso coletivo. Descola a realidade nua e crua das ruas e vidas no planeta Terra, e supervaloriza uma visão de mundo que nem 1% da população pode viver.

Quem pôde vir ao Brasil e viver no paraíso quando as caravelas atracaram? Os ricos fidalgos, que botaram gente escrava pra trabalhar pra eles. Por que Marte seria diferente?

Mas nada me parece mais high tech hoje em dia, que a busca pela dignidade e igualdade humana neste planeta.


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Temos permitido que essa gente fique milionária a custa de trabalho escravo, mesmo quando há leis contra em voga; de funcionários usando fralda pra não ir ao banheiro e produzir mais (alowww Bezos, a Amazon tem banheiros?), de sangue escravizados por mais de 300 anos , de populações indígenas dizimadas, de morte de rios, florestas,oceanos e mares.

O que fazer? Também não sei a resposta..mas creio que combater essa propaganda safada e mentirosa, de outros mundos que nos salvarão, é importante em nossas conversas.

Ainda ontem uma amiga lembrou que não vamos salvar o mundo usando shampoo em barra. É a Coca Cola que tem que se responsabilizar pela reciclagem de suas garrafas ao mar… as empresas que fabricam devem ser as primeiras que reorganizam o consumo e materiais que acumulamos, ao longos dos anos, poluindo o planeta.

Esses três pintinhos milionários, com seus falos, deveriam estar gastando seu dinheiro pra recuperar as matas, pagando indígenas pelo trabalho de reflorestamento que fazem; bancando as cooperativas de reciclagem do mundo..ao invés de estar investindo em lixões de satélites na atmosfera terrestre ou exploração de minério em asteróide.

E por último, me apontem quantas mulheres milionárias, bilionárias, sem ser herdeira ou do entretenimento vocês conhecem…e que esteja planejando montar num clitóris rumo ao espaço.

Observação

Este texto contém apenas reflexões de uma feminista, que não odeia os homens em si, mas odeia o patriarcado que mantém o capitalismo destruindo o planeta e as vidas. Especialmente massacrando os pobres – inclusive os pobres de direita.


Maria Clara Belchior, mulher, feminista e fotógrafa.

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