Dois discos extraordinários e suas semelhanças

As semelhanças existentes entre os discos Blood on the Tracks, de Bob Dylan, de 1975, e Roberto Carlos de 1972.

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Em conversa com alguns amigos, fiz menção a semelhanças existentes, ao meu ver, entre dois discos extraordinários de dois estupendos e históricos nomes: Blood on the Tracks, de Bob Dylan, de 1975, e Roberto Carlos 1972.

Uma das principais e mais relevantes similaridades, a dor transformada em obra-prima é notória a partir do instante em que constatamos dois homens perturbados. São álbuns conceituais, uma vez que giram em torno de uma ideia, de um conceito artístico. Esta conceitualidade, típica do final dos anos 60 e 70, traz elementos sintonizados que vão desde a capa.

Idiossincrasias, tristeza e “confusões da mente”, oscilando entre a tensão total, a expectativa de algo, e a esperança singela. Há tudo isso em ambos.Para mim, “O Divã” e “Idiot Wind” são as canções mais significativas e que denotam a dor contida nestes dois marcos culturais. Roberto entoou os seguintes versos: “Relembro bem a festa, o apito, e na multidão um grito, o sangue no linho branco. A paz de quem carregava em seus braços quem chorava, e no céu ainda olhava, e encontrava esperança de um dia tão distante, pelo menos por instantes, encontrar a paz sonhada”. Dylan, por sua vez, raivoso, se fazendo valer do “som do ódio”, reverberou: “Você jamais saberá o quanto sofri, e todas as dores que precisei superar. E nunca saberá, também, o teu significado, tua grandeza, e o que busca no amor. Então, eu só posso lamentar.”

Outros paralelos existentes foram por mim traçados e aqui os exponho.

Buckets Of Rain – “Se me quiseres, querida, estarei aqui.”

Por Amor – “Mas se um dia, se um dia você voltar, então eu vou ter chance de me levantar.”


You’re a Big Girl Now – “Eu posso mudar, eu juro. Veja o que você pode fazer. Eu posso fazer acontecer. Você pode fazer o mesmo.”

Como Vai Você – “Vem, que o tempo pode afastar nós dois, não deixe tanta vida pra depois. Eu só preciso saber, como vai você?”


You’re Gonna Make Me Lonesome When You Go – “Te procurarei em Homolulu, San Francisco, Ashtabula. Você vai me deixar agora, eu sei, mas te verei no céu acima, na grama alta, naqueles que amo.”

À Distância – “Quantas vezes eu pensei voltar, e dizer que o meu amor nada mudou, mas o meu silêncio foi maior, e na distância morro todo dia sem você saber.”


Meet Me In The Morning – “Todo dia tem sido trevas desde que você se foi. Querida, você sabe que mereço o seu amor.”

Você Já Me Esqueceu – “Vem, você bem sabe que aqui é o seu lugar, e sem você consigo apenas compreender que sua ausência faz a noite se alongar.”


Blood on the Tracks - Dylan
Blood on the Tracks – Bob Dylan – 1975
Roberto Carlos
Roberto Carlos – 1972

Nos discos mais confessionais de suas colossais carreiras (os dois têm a mesma idade – nascidos em 1941; Roberto em abril, Dylan em maio -, além de terem o mesmo tempo de estrada, cujas caminhadas tiveram início em 1959, portanto, há mais de 60 anos), expuseram seus sangramentos em prol da arte.


Por Murillo Pompermayer

Jornalista há duas décadas, o colaborador é apaixonado por arte, sobretudo música e literatura, além de um aficionado pelo futebol.

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